Eu prefiro este termo ao aparentemente mais adequado "conjugal", que é, ao mesmo tempo, mais amplo e mais restrito. Mais amplo porque pode, por exemplo, existir em modalidade poligâmica; e mais restrito por geralmente sugerir casamento. Já, "vida casal" representa bem - e literalmente - o que vemos no nosso dia-a-dia: a vida pessoal organizada sobre o paradigma do casal monogâmico "fiel", geralmente heterossexual, casado ou não, com ou sem filhos.
Ainda sobre o título deste post, eu chamo tal situação de limbo porque não é céu nem inferno, mas nem tampouco desejável. As vantagens todos já sabemos e gostamos de expressar: estabilidade (ainda que frágil, debilitante e opressora) e outros aspectos práticos de conforto tanto material quanto sexual e emocional para a existência civilizada numa sociedade hostil, reprimida, materialista e isolacionista. Mas, os pontos negativos, muito embora os conheçamos igualmente bem (ou até melhor) são encobertos de silêncio ou abordados apenas em tom de brincadeira sobre um destino considerado inevitável.
Quanto à faceta mais cruel de tal modelo, podemos dizer que é a decrepitude sexual causada pela monogamia obrigatória, que extingue a vivacidade, a ânimo, a própria energia vital e a sensualidade dos envolvidos, levando o próprio relacionamento - mesmo em outros aspectos - a uma situação deprimente de morbidez. Mesmo quando "tudo está bem" pelos padrões de normalidade aceitos pelas pessoas comuns quanto a satisfação, libido, liberdade e felicidade em geral. E o chamado "esfriamento" sexual é algo muito mais sério do que os comuns se permitem admitir. Ele drena também os melhores aspectos não-sexuais dos relacionamentos, como a espontaneidade, a alegria de estar junto, a cumplicidade, a intimidade e o bom-humor. Isso porque somos seres sexuais e, sem tesão, somos seres pela metade, somos zumbís. A grande razão de se evitar a discussão e mesmo o conhecimento sobre tal realidade? Simplesmente porque a única possível solução seria ir contra tudo que nos aprisiona e sem o qual o cidadão comum perderia todos seus parâmetros - algo por demais assustador e inaceitável. E quem já teve experiência sabe que tal decadência geralmente começa depois de um curto ou médio período de estabilidade, com a mulher perdendo o interesse, ao passo que adquire enxaquecas, depressão, doenças, filhos ou outros afazeres. Os homens logo depois também acabam desistindo pelo cansaço, desânimo, falta de sedução ou ainda pelo tédio do sexo burocrático do "débito conjugal", apenas para constar. Lhes resta a TV, o futebol, o boteco da esquina, a masturbação envergonhada e outros hobbies.
E aqui vai algo surpreendente e um tanto desesperador: mesmo nos casos de casais com inteligência e coragem para descartar a obrigatoriedade monogâmica, o efeito do modelo de "vida casal" é quase o mesmo, pois ele acaba impondo uma rotina que impede a felicidade sexual pois, na prática, todos acabem se expondo muito pouco ao mundo e as pessoas lá fora (também encoleiradas) quando têm um "cônjuge" (mesmo que ele não seja opressor). Isso ocorre porque o ambiente cultural, social e os aspectos práticos da vida cotidiana acabam por condenar os casais a estarem quase sempre juntos e, como se não bastasse, a se enturmar apenas com outros casais (também encoleirados). O único modo de evitar tal armadilha é tendo uma vida social, sexual e afetiva individual que, na grande maioria das vezes, se torna impraticável - ainda que por puro comodismo ou os tais motivos de ordem prática já citados. Estes são todos fatores que restrigem inclusive os que optam pelo conhecimento e verdadeira liberdade. Realmente, por conta de nossos relacionamentos, vivemos sob uma "ditadura casal" muito opressora e difícil de escapar, ainda que não nos consideremos sujeito a ela!
Por essas e outras, eu diria que o paradigma romântico, monogâmico e familiar é a nossa pior e mais onipresente maldição, pois não sufoca apenas seus simplórios e inconscientes seguidores, mas acaba por negar plenitude até mesmo àqueles que não se submetem filosoficamente a ele, mas são pêgos em sua armadilha, seja por cansaço, comodismo ou falta de tempo impostos a todos aqueles que precisam trabalhar para sobreviver. Sim, vale a pena "se atirar irresponsavelmente" nas raras oportunidades que temos de desafiar este estado de coisas, ainda que tal atitude possa causar pequenos traumas, pois as boas oportunidades de se sentir vivo são tão raras hoje em dia e, se as deixamos passar, é sinal de que já não temos mais energia, desejo ou coragem para sermos plenos. E essa é a pior noticia que podemos receber de nós mesmos.
Não temam, pois não sou o que pareço e nem o que dizem. Toda a verdade em "SOBRE MIM". Este não é um blog de putaria, mas de reflexão, iconoclastia e libertação. É meu portal de comunicação inter-dimensional com vocês, mortais. Mesmo sem pacientes ou interlocutores, me divirto aqui, enquanto escrevo e observo a deliciosa incoerência humana. Podem entrar, deitar no divã, relaxar e até gozar, se souberem como. Bula completa em "Sobre o BLOG". Siga-nos e ganhe uma deslavagem cerebral grátis!
quarta-feira, 27 de junho de 2012
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