O que é "normal"?

Hoje, respondendo a uma consulta, me dei conta de um aspecto muito obscuro no que diz respeito à nossa pobre e reprimida sexualidade: "patologias" e seus estigmas. Nós deixamos os psicólogos (isso quando não são os religiosos ou moralistas) nos dizerem o que é saudável, normal e desejável em termos de sexo, e qualquer coisa fora disso virou "parafilia". Mas o que nos esquecemos é que psicólogos são meros comuns (em sua maioria) e também escravos da ortodoxia psicológica, que é determinada pela moral e bons costumes. Muitos são até crentes! Especialistas não muito confiáveis...

Há dois enormes equívocos quando se julga a "normalidade" de uma determinada postura sexual. O primeiro é atrelar o conceito de "normal" ou "saudável" à moral, cultura, etc - coisas que mudam de acordo com o lugar, nada têm a ver com a biologia e são na verdade instrumentos criados para reprimir nossa sexualidade (e os todos sabem que repressão não é saudável - embora os comuns que admitem isso só o façam sem saber que são eles próprios reprimidos).

O segundo grande equívoco vem de pessoas que adotam um discurso pseudo-científico (tanto laico quanto religioso) segundo o qual sexo "foi feito" para procriação e todo ato que não leva a ela não é natural. Comuns metidos a besta adoram essa teoria, mas ela é totalmente "furada", pois a sexualidade humana já deixou de ser apenas para reprodução há muito tempo. Nós não transamos mecanicamente quando sentimos cheiro de fêmea no cio, como fazem outros animais! Nós temos consciência do que fazemos, e fazemos por prazer! Tanto é que os comuns até romantizam o sexo, não é mesmo? E cães, são românticos? Pronto, não preciso dizer mais nada.

Então, como saber o que é saudável ou "normal"? Vou dar uma resposta que parece simplista mas não é: normal não existe, mas tudo o que te fizer feliz sem causar danos a ninguém é saudável. Alguns exemplos recorrentes que causam pânico em comuns: o cara se vestir de lingerie e pedir um fio terra é saudável? Claro, 100% saudável! Um consolo? Idem. E se ele pede isso ainda por cima prova que ele não tem medo de seus desejos e nem de ser feliz. Ser gay, bi, trans? Óbvio que não há problema. E a menina querer levar uns safanões, ou se fingir de homem, fantasiar que é prostituta ou está sendo estuprada, etc? Tranquilo. Desde que não machuque e não "evolua" para algo arriscado, está ótimo. Gosta de olhar, cheirar, lamber? Beleza! E a pessoa que tem vontade de exibir os genitais em público? Ela vai para a cadeia se o fizer, mas dizer que ela é doente apenas por desejar isso para mim é um absurdo (mas ela é, se não conseguir controlar tal desejo). Nossa moralidade, quando não nos impede de desejar, nos culpa até por isso! Muito triste.

Mas as pessoas em geral não concordam com isso e se policiam o tempo todo, com medo de não serem "normais" de serem doentes, putas, sapatão, viados, indecentes, imorais ou simplesmente diferentes do padrão, como ocorre em qualquer assunto no mundo comum. Tem garotinha que só abre as perninhas de frente (sexo anal é coisa de "viado" ou de "puta"), tem as que nem chupam (que nojo), e tem carinha que "surta" se a namorada põe a mão na bunda dele (pois ele é macho). Transar com o mesmo sexo ou com mais de uma pessoa? Sai fora! E essa gente diz que gosta de sexo. É como ter ido à praia uma vez na vida e dizer que gosta de viajar.

Agora, há os "desvios" realmente muito "estranhos" e/ou perigosos. Zoofilia, necrofilia e a tão em moda - pedofilia (com crianças mesmo, e não apenas menores de idade), dentre inúmeros outros já catalogados ou não. Aí é o único ponto em que não podemos ser tão "liberais", pois há consequências muito sérias e inclusive criminalizadas em alguns deles. Mas, felizmente, pouca gente tem tais impulsos realmente doentios (a grande maioria é de meros reprimidos padrão) e se você não tem tais impulsos perigosos, jamais pense no que é "normal" ou não. Apenas procure por pessoas (sim, no plural, se possível) que te entendam (honestamente), faça de tudo com elas e seja feliz. Muuuito feliz! A tal "normalidade" não existe e nunca existiu, pois é tudo relativo, mas ela é pregada por gente medíocre e limitada o tempo todo - e cobrada! Tolo é quem ouve e deixa de viver seu tesão sem limites pelo bem da satisfação dos outros.