O Clube 27

É meu único playground. Um local às vezes generoso e às vezes irritante, bem representativo do paradoxo humano. Às vezes ponto de encontro de gente liberta e tesuda, a fim de de uns esfregas sacanas e sem compromisso. Outras, mero ajuntamento de comuns hipócritas e travados se achando sexy em seu teatrinho monogâmico e ridículo, com pretensões de ousadia dentro dos limites da moral puritana da classe média. Cretinos querendo se expor com segurança, sem colocar seus valores em risco ou contaminar sua bolha romântica, fora da qual se sentem acuados. Eles a levam para a pista de dança e ficam lá protegendo-a, por mais deslocada que ela esteja. Mas eles não se importam. Ou não sabem.

Neste ponto de intersecção inter-dimensional podemos observar muito da fraqueza, da estupidez e da vaidade humana, mas também da libertinagem, da inspiração e  da autenticidade - tão raras na nossa sociedade. E o mais revoltante é que o tom depende exclusivamente da sorte, pois nunca se sabe qual time vai dominar o campo. Quando são os intrusos, a noite é fracassada e patética, chegando a ser deprimente. Mas às vezes os pervertidos conseguem se impor, e apenas por isso ainda vale a pena se arriscar. Entretanto é preciso estar preparado tanto para uma linda sacanagem quanto para o asco que dá dividir o ambiente com posers. Não é justo, pois o mundo lá fora já é todo dessa corja limitada. Não deveriam se meter no sub-mundo, levando para lá sua mediocridade. Infelizmente (pelo menos nesses momentos) este é um país livre e igualitário; e boates (mesmo as alternativas) existem para ganhar dinheiro... Sem mencionar, é claro, que o mundo é dos comuns onde quer que se vá.

Assim colecionamos boas e más experiências e lembranças de um mesmo local, que apesar de tudo amamos, pois ele não é apenas palco de momentos de muito prazer e liberdade, mas também um curso de pós-graduação em Humanidades com concentração em situações de fragilidade e profundas implicações ideológicas, sociológicas, existenciais e filosóficas - tudo escondido sob o manto da simples sacanagem (autêntica ou poser) para aqueles com capacidade analítica, que felizmente é o que não me falta, mesmo em meio à embriagues e a putaria.

Eis aí o "post de honra" de Dezembro, já no comecinho do mês. Está na tag "Asmofiction" mais pelo estilo do que por ser ficção (pois não é realmente).