Não tema a solidão

Além da morte, ela é a única coisa totalmente verdadeira que podemos experimentar na nossa existência e por isso, ambas devem ser sempre bem-vindas. Inclusive, penso que são irmãs que nos acompanham durante a vida toda. Logo, quem morre só está, de fato, em meio a uma reunião de família.

Claro que nosso instinto humano escapista, carente e em busca de perpetuação genética nos manda fugir dessa dupla, e nós fugimos. A negamos, a ponto de acreditar que não somos sós e que vamos morrer apenas lá no futuro distante. Só que, na verdade, estamos sozinhos o tempo todo, e o futuro distante logo chega, pois não percebemos o tempo passar enquanto nos distraímos com nossa imbecilidade, nosso medo e nossas ilusões.

O maior paliativo contra a solidão é o amor. Usamos essa droga para ter a sensação de que estamos ligados a outro ser e assim, imunizados contra ela. Mas o efeito placebo é fácil de ser descontinuado, bastando para isso nos expormos aos fatos da vida, à biologia, às necessidades básicas de conforto, à vaidade e à superficialidade do outro. A porrada de realidade nos traz de volta ao normal, sem anestesia.

Mas, vejamos o lado bom disso tudo: a solidão não mente, é boa conselheira e nunca decepciona. É fiel a seus princípios, seu discurso silencioso e suas demonstrações de merecida indiferença. Além de nos mostrar verdades que ninguém mais ousa. Viva a solidão. E viva bem com ela. Você pode até encontrar glamour, se souber procurar.