É comum em revoluções, sejam elas sociais ou individuais, ocorrer apenas uma substituição de paradigmas, sistemas e mecanismos de opressão ao invés de destruição, diminuição ou enfraquecimento dos mesmos. Substituir governos, trocar de religião, usar uma droga diferente - nada disso adianta. Uma vez que a oposição vira situação, fecha-se o ciclo e voltamos ao ponto de partida.
Na esfera pessoal, o grande agente a emperrar o progresso são "os outros", que nunca deixam de observar e ditar comportamentos, ainda que disfarçados de desobediência. Como sempre, enquanto a pessoa é mais uma ovelha no rebanho, ela se sente obrigada a engolir os dogmas comuns por medo da reprovação por parte dos tais observadores. Mas daí, muitas das poucas ovelhas que se desgarram encontram "outros outros" (que também podem ser os mesmos de sempre) perante os quais elas agora se sentem na obrigação de serem coerentes (e às vezes até militantes) no seu papel de diferente, por mais que isso lhes seja inútil ou danoso. Ou seja, continuam vivendo para os outros.
O que ganhou-se com isso? Nada. Enquanto existir a obrigação de se mostrar seguidor disso ou daquilo e se forçar a atitudes que demonstrem compromisso com qualquer ideologia ou regra (como sempre, para aprovação ou reprovação dos outros), apenas se andou para os lados, e não para a frente.
Incidem neste erro os deslumbrados e superficiais, posers, por falta de consciência do que estão fazendo, de si mesmos ou ainda, daquela introspecção que nos dá o poder de sermos diferentes de forma autêntica, despreocupada e original, nos colocando acima da tolice opressora e limitante que domina a sociedade.
Enfim, não se deve perder a espontaneidade em nome dos outros, eles que são o demônio, que também é deus e vice-versa. Cultuar e se submeter a qualquer um deles e prestar contas de si e de seus atos dá na mesma. A coerência só convive bem com a liberdade onde não há dogmas ou necessidade de se provar. Caso contrário, é continuação da escravidão, simulação de ruptura, ilusão de liberdade, encenada no palco da mediocridade.
Este post é dedicado a P.
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