Lá vem o brasileiro e sua heterossexualidade

Algo do qual felizmente quase nunca me lembro, morando fora do Brasil, é como o nosso povo faz total e absoluta questão de informar a todo momento que é heterossexual. Sempre que expostos a imagens, situações ou ideias envolvendo sexo ou nudez, precisam dizer que "daquilo não gostam" quando se trata do mesmo sexo. E às vezes até sem razão alguma. Como se alguém estivesse perguntando, sugerindo alguma coisa ou colocando em cheque sua "macheza" (que também pode ser a feminina, se é que me entendem, e não estou me referindo a lésbicas). Isso só demonstra duas coisas: primeiro a homofobia profundamente enraizada em nossa psiquê; e depois, um aspecto ainda menos acessível a mentalidades simplórias, que é a extrema limitação sexual a que estão sujeitos, onde não se permitem qualquer consideração erótica que saia do modelo "macho convencional" (e repito que quando me refiro a mentalidades "machas" incluo as mulheres também).

Quer mais provas disso? Pois bem: qual a pior ofensa que se pode dirigir a um homem? Simples, basta chamá-lo de "viado" (e "ofensas" similares). Para quem não sabe, a palavra "gay" (pelo menos em países civilizados e entre a maior parte da população) não é ofensa! É apenas uma forma neutra de se referir à opção sexual de quem gosta do mesmo sexo. Mas o pobre coitadinho do brasileiro ainda não entendeu isso ou não aceitou, e ainda tira sarro ou "xinga" gringos de "gay" às vezes, e eles, que deveriam ficar ofendidos, ficam é confusos, sem entender o que aquele ser tropical exótico quer dizer com isso, quando não são gays. Demora um pouco até entender que o infeliz está tentando ofendê-los.

Agora há também um desdobramento moderno dessa postura de alardear heterossexualidade, que é o alarde da sexualidade. Isso vem ocorrendo com a ala feminina da macheza nacional. Antes, as mulheres tinham que ser puras e nunca se manifestar no sentido de gostarem de sexo (ou eram logo taxadas de "vagabundas", "putas" e indignas do matrimônio). Agora, com a pseudo-emancipação sexual feminina no Brasil, virou moda elas posarem de "transudas". Inclusive as mais castradas, conservadoras, crentes e frígidas da classe média saem por aí dizendo que adoram sexo, homem, sacanagem - algumas dizem até "pau". Nossa! Sim, um parte delas deve gostar mesmo de tudo isso, mas o grupinho autêntico é bem menor do que aparenta, e eu sei por experiência. É, elas começaram tímidas, com uns papinhos "safadinhos" como, por exemplo, chupar pênis com leite condensado e outros "fetiches" que na verdade deixavam o sexo menos... "nojento". Agora já propagandeiam seu tesão por aí, até na midia social, descoladas que são, com pouco pudor (e  credibilidade idem).

Mas, voltando aos homens e a sua emocionante heterossexualidade, já fazia tempo que eu não me deparava com isso. A última vez foi quando conhecí um brazuca (sinônimo de otário) aqui, há uns 2 anos atrás, conhecidoo de uma brasileira burrinha também, que era minha "amiga". Em seu humor "espirituoso", ele sugeriu que eu era gay porque estava indo assistir a uma parada militar onde desfilavam soldados de cujo uniforme fazia parte um kilt (saia masculina escocesa). Também demorei a perceber que ele estava tentando ser esperto e engraçado ao sugerir que eu estava na verdade interessado em ver pernas de homem. Mesmo depois que minha vagareza mental percebeu a sutileza humorística altamente intelectual dele, ainda assim não consegui rir. Mas ele achou graça. Me pegou, hein? A velha piadinha de chamar o outro de gay! Não é o máximo? Nada como ser hetero muito bem declarado, muito acima de qualquer suspeita, "transudo" e piadista de talento. Bem como o brasileiro classe média contemporâneo.