Pequenos momentos bizarros da vida I

Estava eu num avião no trajeto Chicago - SP. Enquanto considerava qual filme assistir dentre os oferecidos no limitado menu da classe econômica. Talvez buscando inspiração, me perdi observando o monitor do rapaz que estava sentado na fileira à minha frente, o qual eu podia enxergar pelo vão entre as poltronas.
Ele assistia "O lutador" e eu resolvi olhar algumas cenas, para ver se gostava, pois ele nem sabia que eu estava ali atrás, observando o monitor dele.
De repente, uma cena de sexo, mas apropriada para menores, o ato era apenas sugerido e o casal de atores estava vestido (ele de cueca e ela de lingerie), pois nenhuma cia aérea se permitiria exibir algo contra a moral e os bons costumes da família americana.
Logo que a cena começou, ele estendeu a palma da mão sobre a tela, impedindo a visão da mesma. Imaginei eu que ele estava fazendo aquilo por algum outro motivo, como se espreguiçar. A cena se interrompeu e ele abaixou a mão. Quando a cena continuou, ele tampou a tela novamente. Naquele ponto eu fiquei preocupado pela possibilidade de eu estar o deixando envergonhado, mas confirmei que ele nem sabia que estava eu olhando e também não havia ninguém sentado ao lado dele. A sequência de interrupções de cena com abaixamento da mão e de continuação da cena com obstrução da tela continuaram até a cena acabar de vez.
O fato do rapaz ter essa atitude sem saber que alguém o observava me perturbou (e mesmo que ele soubesse, perturbaria também, ainda que menos). Notei que ele era casado com uma moça bem pouco atraente, que estava sentada longe, a uns 5 metros de distancia, na fileira vizinha (não na poltrona vizinha), ele usava aliança e tinha traços árabes, o que me fez imaginar ser ele do Oriente Médio mas, depois, ao ouvir o casal conversando, percebi que eram ambos 100%  paulistanos "da gema".
Isso tudo só me perturbou ainda mais. Seriam eles algum tipo de religiosos fundamentalistas ou a coleira do rapaz era tão apertada ao ponto dele se negar a ver cenas infantis de sexo (ainda que sem testemunhas) em nome de paradigmas românticos? Ou, pior ainda, as duas coisas juntas? Será que ele tem medo de olhar para outras mulheres mais atraentes e depois não ter motivação para encarar a esposa na cama? Fico até sem palpite.
Infelizmente - ou felizmente, nunca saberei. Gente comum pode ser muito assustadora às vezes...