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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ressaca Moral

Consulta enviada por: "P"

Caro Dr. Asmodeu,
Recentemente, tive uma experiência bem chata, por não ter parado pra pensar que estava lidando com comuns. Tenho uma amiga que paga de 'moderninha', "administra" vários homens ao mesmo tempo, já ficou com uma menina, e disse que queria experimentar novamente. Um dia, essa minha amiga me propôs que nós duas "pegássemos" um cara, juntas. Eu curti muito a idéia, mas como namorava (ah, a monogamia...) na época, descartei. Porém, aquilo ficou na minha cabeça. Meu namoro acabou, e eu fiquei mais próxima dessa minha amiga e, dias atrás, estávamos numa reunião com alguns amigos íntimos, na casa de um "ficante" dela, e acabou rolando um ménage, entre eu, ela e o ficante dela. FOI ÓTIMO, porém eu notei que no dia seguinte, ela me evitava...e quando comentávamos sobre a festa, ela chegou a dizer que devíamos ir a missa pra pedir perdão (em tom de brincadeira, ela não é religiosa). Eu não havia, em momento algum, parado pra pensar que estava lidando com comuns, e que esse tipo de coisa poderia acontecer. Me diga, Dr., devo conversar com ela sobre o ocorrido, ou simplesmente ignorar e esperar que as coisas voltem ao normal (ou não)?


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Cara P,

Você se se meteu num "impasse com comum", algo a que estamos sujeitos ao interagirmos com eles. É inevitável acontecer às vezes e, por mais conscientes que estejamos, nos pega de surpresa. Especialmente quando relaxamos na companhia daqueles que nós "esquecemos" que são comuns (na verdade, fazemos de conta que não são, para o nosso prazer, quando a companhia é boa). Negando o que sabemos, nos deixamos levar pela ilusão de cumplicidade que aflora; isso porque nós ainda somos humanos e precisamos de amizades.

Tal problema ocorre quando nos ligamos a pseudo-libertos, ou "posers", como parece ser o caso da sua amiga. E sinto lhe dizer que as coisas jamais voltarão ao "normal", pois vocês partilharam algo muito marcante e real, que já causou conflito a ela, e pode causar ainda mais.
Quando ela mencionou "missa" isso foi uma semi-brincadeira. Provavelmente ela não se sente culpada por pecar contra mandamentos religiosos (coisa que ela já faz há tempos) mas ela deve se sentir realmente culpada por quebrar paradigmas comuns muito fortes, especialmente no caso de mulheres latinas, cuja sexualidade e moral são muito guiadas pelos "bons costumes" e o romantismo impressos em suas mentes.
Sabemos que o futuro das "moderninhas" também é ser esposa fiel e monogâmica de um "bom marido" e mãe. Elas apenas flertam com a liberdade e o poder de imitar os homens enquanto se sentem em condições seguras para tal, mas elas sabem que isso vai acabar logo e elas vão ter que se "enquadrar". E mesmo essa fase de ousadia deve ter seus limites, sob pena de sérios conflitos internos. Há sempre algum tipo de culpa quando se quebram tabus da "tribo". Na esfera pequeno-burguesa, partilhar um "ficante" (alguém com o qual já há um certo envolvimento e já se desenvolveu uma relação "casal", ainda que aberta e esporádica) pode ir muito contra certos princípios que vão ser observados no futuro, e isso pode trazer insegurança e um sentimento de culpa e dúvida que serão inconvenientes algum dia. As comuns moderninhas não gostam de se sentir como se estivessem perdendo certos limites que as mantém em sintonia com o grupo e seu estilo de vida. Partilhar um ficante tem seus riscos, pois certas atitudes consideradas "imorais" pela sociedade também podem representar um pecado contra a a santidade de uma futura família e causar culpa e arrependimento, já durante a "fase da liberdade". Além disso, qualquer fuga da fórmula "1+1" traz desafios e consequências emocionais não imaginadas previamente. A ideia de "devassidão" inerente a certos comportamentos sexuais traz um vazio emocional e medo (resultado direto da formatação romântica, mesmo em sua versão moderninha e quase "desencanada").

Uma nota pessoal que me inspirou no título e mostra bem como certos comportamentos não são assimilados pela mentalidade comum, ainda que esclarecida: contava eu a uma amiga comum mas inteligente o que eu havia feito numa festa-fetiche. Ela é inteligente (repito), sabe exatamente meu posicionamento quanto a estes assuntos, e o que eu fiz foi menos "grave" do que o que você fez. E mesmo assim, ela me perguntou com toda seriedade se eu estava arrependido ou com "ressaca moral". Não entendi porque eu poderia estar, mas na mentalidade comum certas atitudes anti-românticas são realmente assustadoras e passíveis de nos fazer sentir muito mal. E fazem, quando é o comum que as pratica. Sempre haverá culpa.

Um conselho é muito arriscado, pois tudo depende muito da mentalidade dela, da situação em que as coisas estão, de como ela está lidando com o próprio conflito (ou culpa) e de como ela se sente perante você depois da experiência. Pode estar se sentindo diminuída, muito exposta ou envergonhada. Ficando quieta, você pode permitir um arrefecimento  crescente da relação, perda de intimidade e o fim da amizade (ou não, caso ela "se resolva" rápido e por ela mesma; caso em que o seu silêncio agora é justamente o que ela precisa). Forçando uma conversa, você vai levá-la a encarar e discutir seus próprios valores e atitudes comuns, talvez até sua pseudo-liberdade, o que pode machucá-la e levar a um rompimento imediato.
No meu caso, sempre fico quieto e a amizade acaba, depois de um certo tempo (na verdade o plano "inconsciente" é esse mesmo). Mas quando eu acho que a pessoa tem potencial e não quero perder a amizade, eu converso. Assumo o risco de um embate. Alguns trazem resultados surpreendentemente positivos; mas a maioria não. E se você não é comum, sabe lidar muito bem com a perda, se assim considerar o fato.
Obrigado por enviar uma questão não apenas filosófica mas que também foi experiência da vida real. Espero humildemente ter ajudado, embora eu nunca apresente soluções.

Boa sorte,

A.

3 comentários:

  1. Obrigada pela resposta, Dr. Cheguei a conversar com essa minha amiga a respeito, ela disse que não está preocupada com nada, que acha normal que eu, assim como ela, tope experiencias com mulheres, mas que devo preferir homem, também. A amizade parece ter ficado distante após o ocorrido, mas deixei de me preocupar. O que está feito, está feito, não é mesmo?

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  2. Olá, P.
    Q bom ver q vc voltou p/ nos dar um update.
    Acho q vc fez a coisa certa falando com ela.
    Como eu imaginava, as coisas realmente não voltarão ao "normal" entre vcs duas, mas isso não deve ser problema, e fico feliz q vcs não estejam preocupadas, apesar do estranhamento e mudança na relação.
    Pelo q vc contou agora, percebí algo q não me ocorreu antes: me parece q ela tb está preocupada c/ essa questão de "gostar de homem ou de mulher" que é uma constante na sexualidade comum. E uma grande tolice. Essa preocupação simplesmente deveria não existir e novamente fico feliz por me parecer que vc não partilha dela.
    Sim, o que está feito está feito, e é sempre p/ melhor, sempre nos faz crescer, aprender mais e fazer nossa vida valer mais a pena, ainda que desencontros e sentimentos estranhos estejam envolvidos no processo. Sempre ganhamos com tais experiências, depois de devidamente assimiladas e analisadas. Em última instância aprendemos sobre nós mesmos.

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  3. Bem acho que o cara que ficou com vcs duas é um cara de sorte (se sua amiga for tão bonita qto) eu me pergunto se vc não fosse amiga dela as coisas teriam sido diferentes, afinal se vc fosse uma estranha ela poderia "deletar" tal episódio da mente dela com mais facilidade e talvez o fato ter sido com uma amiga aumente a "ressaca moral" dela, acho que tem a ver com a tal cultura club de swing que mandei na minha consulta, em um lugar fechado, escuro com estranhos pode afinal no dia seguinte está todo mundo trabalhando e posando de casal feliz e monogâmico, enfim algumas pessoas são livres apenas na fachada outra na essência

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