Casamento: a dupla futilidade

Todo mundo casa, não é mesmo? Pelo menos a grande maioria dos comuns que alcançam tal meta e também boa parte dos pensantes que conseguem tal façanha. Não pretendo analisar motivos, ou o post vira ensaio mas, brevemente falando, é puro paradigma - aquela óbvia e pobre (embora quase inevitável) falsa linha de causalidade que determina que pessoas que se amam devem se casar uma com a outra (monogamicamente, é claro), como se fosse um desenvolvimento lógico e obrigatório, que de lógico não tem coisa alguma, e nem obrigatório, além de ser inútil. Há também as velhas necessidades materiais e sociais, é claro, mas essas nem merecem análise alguma.

Enfim, para aquelas pessoas que se julgam inteligentes, conscientes sobre paradigmas, conhecedoras de cultura e história, e não dispostas a prestar homenagens à sociedade, casamento é pura futilidade; é inaceitável. E, por mais absurdo que pareça, mesmo esse tipo de gente faz questão de ignorar tal fato, o que para mim é prova patente da mediocridade geral, inclusive dos "inteligentes cultos e bem-sucedidos" que, apesar da pose, são quase todos mentecaptos filosóficos. Parecem não se tocar que casamento não tem absolutamente nada a ver com amor, sentimentos, respeito e etc. Nem mesmo fidelidade! Basta olhar para os próprios comuns que se casam, depois de algum tempo.

Isto posto, fica demonstrada a futilidade conceitual do casamento. Mas tem outra: a futilidade "cênica". Com as redes sociais, casar se tornou ainda mais importante e glamuroso. E há até modinhas que todos começam a seguir, como soltar pombinhos no ar (hahaha), certas poses para fotos, "mis-en-scene", etc. Olhando as fotinhas de comuns felizes em seus fraques, vestidos de noiva, igrejas decoradas e suas festas caríssimas de ostentação, devidamente postadas online com loquaz grandiosidade, e direito até a "making of" e falsa espontaineidade, nos fica claramente ilustrada sua verdadeira profundidade, natureza e honestidade intelectual (pelo menos a dos que intelectuais se dizem). Além da necessidade (tão medíocre) de se "oficializar" um relacionamento, isso ainda tem que ser feito de acordo com regras, modas e modelos prestabelecidos. É fútil, é ilógico, é limitado, é triste. Um buraco onde quase todos se deixam cair... e desculpas furadas não lhes faltam.