Assim que cheguei ao club dei aquela passada de sempre em frente ao bar, que é o modo mais fácil de ver quem não está na pista e também de se aclimatar ao ambiente, depois de abandonar a circunstância e o silêncio da rua.
Megan abraçava um cara. Ao me esgueirar para passar por eles, ela me percebe. Olha para mim com lindos olhos castanhos enormes, já aparentemente alta, grita meu nome e me abraça com muito entusiasmo - um abraço longo, sincero, apertado, quente e incomum; muito incomum nessas terras. Depois, aos berros, troca algumas palavras comigo, que eu respondo também entusiasticamente mas com muita incerteza, pois o barulho não me permite entender bem o que ela diz.
Como as coisas nessa subcultura acontecem muito devagar, levou mais de ano para que eu soubesse o nome dela, e quase isso para ganhar aqueles abraços maravilhosos - sim; paradoxalmente, eles vieram antes do nome. Um lindo nome para a única e verdadeira ninfa (ou deusa) da pista. Em meio a tantas beldades, posers, inertes, vazias, roupas, adereços, caras e bocas, ela é a única coisa autêntica e viva a dar legitimidade e real graça ao lugar. Ela é visceral, se contorce, se bate, se emociona, sua, se acaba e comove na pista. Ela sente, vive e canaliza a poesia, o mistério e a força da música e da franca femininidade. Assim ela me conquistou e se conectou comigo. Sem palavras, mas apenas com olhares fugazes, sempre que nossos corpos se esforçavam para não se chocarem enquanto brincavam com o perigo.
Agora  - e desde sempre - reinamos juntos naquela pista, ainda que discretamente, ainda que sem pompa e nem circunstância, e sem que nos entreguemos todas as noites ao nosso pas de deux ao mesmo tempo desesperado e dissimulado. Sim, ela me escolheu, tacitamente, como consorte. Eu compreendi e aceitei sua escolha, em seus termos, com devoção e amor à minha rainha com cabelos de corvo que a fazem parecer mais uma voluptuosa princesa egípcia, apesar de germânica.
Sempre nos procuramos, nos monitoramos e amamos na pista, ao nosso jeito platônico, tão íntimo e tão distante. Nossa aliança não declarada se sustenta com silêncio, paixão e doçura, até o momento em que ela desaparece por entre luzes, fumaça e escuridão, para só reaparecer na próxima semana. Até lá, nosso reino se desfaz, deixando no lugar apenas uma corte indigna e alheia ao ocorrido.
Não temam, pois não sou o que  pareço e nem o que dizem. Toda a verdade em "SOBRE MIM". Este não é um blog de putaria, mas de reflexão, iconoclastia e libertação. É meu portal de comunicação inter-dimensional com vocês, mortais. Mesmo sem pacientes ou interlocutores, me divirto aqui, enquanto escrevo e observo a deliciosa  incoerência humana. Podem entrar, deitar no divã, relaxar e até gozar, se  souberem como. Bula completa em "Sobre o BLOG". Siga-nos e ganhe uma deslavagem cerebral grátis!
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
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