O casamento do amigo

Hoje eu presenciei um fato sobre o qual já falei muito aqui: a assimilação de um indivíduo no universo comum com aceitação de seus valores e todos os rituais que marcam tal conversão, num momento quando  ele julga que tal movimento se tornou necessário.
Não que o cara não fosse comum antes, mas era dos que demonstram aquele tipo de atitude resistente, debochada e semi-rebelde que a gente sabe que não dura para sempre. Sempre foi encoleirado, mas também posava de irreverente. Hoje, estava lá, casando numa cerimônia com direito a todos os elementos de culto ao romantismo piegas e "social", desenhados para comover a todos e reforçar os ideais comuns, "família", provincianos, românticos, etc.
A seleção musical durante a cerimônia foi padrão, mas o momento que deu oportunidade para uma crítica velada por parte de outros amigos ocorreu durante a festa. Só tocou pagode e similares no casamento de um cara que só curtia punk rock. É verdade que punk rock escandalizaria a sociedade interiorana presente e, assim sendo, ninguém esperava nada autêntico, mas optou-se pelo totalmente popularesco, num reflexo da nova realidade de vida que começava ali. Nisso, um gaiato pergunta: "Quando vão tocar o setlist do noivo?". Gargalhadas explodem, sem a necessidade de resposta ou mais comentários. Com certeza estávamos falando sobre muito mais do que música. Ele entregou os pontos em todos os aspectos, e o mais surpreendente foi que ele parecia estar adorando; não apenas a rendição incondicional, mas até mesmo dançar pagode!
Tá certo. Ele sempre foi comum enrustido. Mas mesmo assim deprime ver com os próprios olhos como a conformidade se impõe e como ela até parece trazer felicidade aos que se submetem. E talvez a felicidade seja verdadeira, pelo fato de não se considerar mais necessária uma atitude que não era autêntica.
E o que é ruim, sempre pode piorar. Quando eu finalmente consegui ir embora, estavam tocando axé.